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A “Nona” Magra e a “Nona” Gorda

 

 
Quando criança meu pai e minha mãe, levava os quatro filhos com muita frequência para visitar nossas “nonas”.  Francisca Tomio era muito magra e Liberata Pintarelli era muito gorda. Então por isso nós as chamávamos de “nona” magra e “nona” gorda. Essa convivência semanal com as avós, criou um amor muito grande delas pelos netos e dos netos para com as avós.
Francisca Tomio, nascida Roberti, veio de Nova Trento (SC) muito jovem para Ascurra. Casou-se com Francisco e ambos eram conhecidos pelos apelidos em italiano: “Cesca e Cesco”.  Ela era analfabeta e mal falava o português, mas criou treze filhos.

Nona CescaArquivo Pessoal

  Muito jovem trabalhou em uma fábrica de queijo que ficava em frente ao Colégio São Paulo. Depois de casada trabalhou o resto da vida na lavoura. Tinha várias vacas, porcos, galinhas. Plantava milho, aipim, batata, cana, verduras, etc. Toda produção era para alimentar a família. A sobra ela trocava por trigo e sal, que eram as únicas duas coisas que não produzia. Esta troca, sempre feita no Mercado Dalfovo, tinha um retorno financeiro, pois a venda dela era superior à compra. Mesmo analfabeta ela entendia de economia. A balança financeira estava sempre positiva! Foi na “nona” magra que consegui o meu primeiro emprego aos treze anos com salário mensal. Ajudava nas plantações e também idas ao mercado. Consegui comprar uma enciclopédia de história com um pequeno salário!

  Já Liberata Pintarelli, a “nona” gorda, nasceu  Venturi em São Pedrinho na cidade de Rodeio (SC). Mudou-se para Ascurra com o esposo Joaquim Pintarelli. Perdeu o marido muito cedo. Este tirou a própria vida. Liberata criou seis filhos ainda crianças com a morte do marido. O filho mais velho, Aldo Valdir, conduziu os negócios da família. No bairro Tamanduá eram produtores de banana. Na propriedade também plantavam várias culturas para sobrevivência da família. Tinham vários funcionários que trabalhavam na roça e Liberata fazia a comida para todos. Com a morte do marido, ela pediu ao filho Valdir, que aumentasse o salário deles e que passassem a almoçar em suas casas.

“Nona” Liberata com familiares e amigos.Arquivo Pessoal


  Era uma mulher doente, mas sempre bem-humorada. Muito inteligente, contadora de histórias e falava muitos “ditados” em italiano que a vida tinha ensinado. Eram frases fortes e verdadeiras que lembramos até hoje.

  As visitas às casas das “nonas” eram muito frequentes. Elas estavam sempre preocupadas em ver os netos felizes. Por isso não economizavam tempo fazendo comida, bolos e doces. Sempre voltávamos para casa com uma peça de queijo, pedaço de polenta, carne, frutas, etc.  A comida delas era especial. A melhor do mundo! Mesa farta e tudo produzido na própria lavoura. Era muito divertido visitar as “nonas”. No Natal e Páscoa sempre nos davam chocolate e aqueles ovos enfeitados cheios de torradinhos.  Porém antes nos pediam para rezar um Pai Nosso e uma Ave Maria. A religiosidade católica sempre acompanhou essas duas guerreiras.

  O fascínio dos avós pelos netos e vice-versa continua e talvez continuará para sempre. Para os avós uma oportunidade de aproveitar os netos mais do que tiveram tempo de aproveitar os filhos. Como hoje pai e mãe costumam trabalhar fora, os filhos acabam ficando na creche. Para os netos a mesma coisa: Aproveitando os avós que agora tem mais tempo para eles. Tempo que talvez os pais não tenham por estarem trabalhando.

  Esse elo familiar não pode ser perdido nunca. É a continuidade da família e da vida. Muitas crianças, inclusive, são criadas pelos avós enquanto os pais trabalham fora. No passado os filhos ficavam com os pais o tempo quase integral. Ajudavam nas tarefas domésticas e tinham mais respeito pelos familiares, professores e religiosos. São valores que a “nona” magra e a “nona” gorda sempre nos ensinaram.

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