A história a seguir aconteceu no ano de 1920 em uma cidade próxima. O “nono”, nosso personagem, era agricultor e residia com a sua esposa, filhos e netos. Na época contava com sessenta anos. Era um homem brincalhão e amigo de todos. Característica inata das famílias italianas que viviam da agricultura.
O “nono” tinha uma paixão muito grande pela natureza. Amava as plantas, os animais, as aves, sua plantação e aquele magnífico riacho que cortava sua propriedade. Naquele tempo não existia o que nós chamamos hoje de banheiro. O serviço era feito naquela patente de madeira distante da casa. Quando a fossa estivesse cheia, a família toda fazia uma forcinha e trocava-se a casinha do local.
O papel higiênico também ainda não tinha sido inventado. Usava-se comumente o famoso sabugo de milho. Temos certeza de que o amigo leitor, se tiver mais de sessenta anos, também deve ter usado. Era comum ver nas casas de interior, aquela patente com um balaio de sabugos pendurado do lado de fora. Todos os colonos plantavam milho para fazer a polenta, tratar animais e o sabugo também era aproveitado.
O “nono” fazia o serviço de uma forma um pouco diferente. Levantava-se cedo, trabalhava até umas nove horas, voltava para a casa e fazia a famosa “colacion”. Era um café bem reforçado com polenta e ovos fritos no cardápio. Trabalho pesado exige boa alimentação. Depois da “colacion”, disfarçadamente, saia com meia dúzia de sabugos de milho. Sem chamar a atenção, dirigia-se para o barranco daquele riacho que ele tanto amava.
Lá, preparava-se para o que ele tinha de mais sagrado: De cócoras, na beira do riacho, mirava o dito cujo em direção àquelas águas sem agrotóxico e expelia o “negócio” pastoso. “Tchilum!” Ouvia-se quando batia na água. E boiando ia a “m” em direção ao mar. Volta e meia um pingo de água voltava e batia naquelas bundas brancas, aumentando ainda mais o seu prazer.
O local da terapia matinal era bastante arejado, escondido e descomplicado. Bem próximo ao barranco, havia aquele heróico pé de mata-pasto. O “nono” fixava suas mãos calejadas naquela plantinha para não cair no riacho. Os mais antigos devem conhecer essa planta. Forte e difícil para arrancar.
Essa era a rotina diária daquele homem que não sabia que estava sendo observado. Aquela dupla infernal de netos estava a tempos tramando uma contra o “nono”. Os dois moleques queriam acabar com a alegria do ecologista a todo custo.
A ideia macabra estava pronta. O alvo era o pé de mata-pasto. Com muito esforço arrancaram a plantinha e disfarçadamente, a colocaram no mesmo local apenas com um pouco de barro.
O ”nono” hesitou um pouco no dia seguinte em ir ao lugar sagrado. Um típico dia de inverno com geada. Expor a bunda branca naquele frio assustava, mas, a terapia compensa tudo. Passou a mão na sacola de sabugos e caminhou suavemente até o riacho. Baixou “le mudande”, mirou o negócio naquelas águas cristalinas e começou a fazer aquela gostosa e relaxante força.
Sempre que o “fax” iniciava sua saída, o “nono” pendia o corpo para traz, agarrava-se com ambas as mãos no pé de mata-pasto. Fazia isso diariamente como quem monta um cavalo xucro. Porém nesse dia, seu velho amigo, não conseguiu segurar o velho. A plantinha não resistiu ao seu peso. O final todos já imaginam. Sob o olhar dos netos, lá foi o “nono” barranco abaixo naquele frio dia de inverno.
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