A fórmula um era uma paixão nacional como é o futebol. Hoje, sem Senna, o brasileiro esqueceu um pouco esse esporte. No auge da carreira de Piquet, dois ascurrenses resolveram ir até o Rio de Janeiro e assistir a fórmula um. Naquela época, Senna não passava de um Barrichello da vida, mas já dava sinais de que seria um rei com sua Toleman.
Os dois irmãos, Aldo e Wilson, pagaram durante meses, aquela parcela para uma excursão vinda de Brusque. A turma do ônibus era da pesada. Festa e cerveja até o Rio de Janeiro. Ninguém dormia. Mesmo cansados de tanta festa, foram direto ver o corcovado, pão de açúcar, etc. Coisa de turista do interior. A noite antes de dormir, mais festa, mais cerveja.
Naquele momento entra o motorista do ônibus e larga a bomba.” Gente, já é meia noite. É melhor vocês dormirem. Amanhã teremos que sair às três da madrugada para pegar um bom lugar no autódromo”. O motorista continuou explicando que era necessário estar lá às cinco horas da madrugada apesar da corrida começar só às treze horas e trinta. Chegando tarde, corria-se o risco de ficar sem lugar pois o ingresso era da geral. “Levem bonés pois com o verão de quarenta graus em pleno sol não se brinca”. Continuou ele. Foi ali que começou o arrependimento de alguns integrantes da excursão.
O ônibus estacionou a dois quilômetros distante do local. O resto do caminho foi a pé no meio da multidão enfurecida que também procurava um bom lugar. Wilson e Aldo levaram cada um uma caixa de cerveja, porém foram barrados. Era proibido entrar com a bebida. Entre voltar 2km e fazer uma doação voluntária para os fiscais, optaram pela última.
Por orientação do motorista, todos ficaram nos últimos degraus da arquibancada. Posição estratégica e fora da mira dos arremessadores de sacos de xixi. Explicando melhor: Uma vez sentado, era difícil descer aquela enorme arquibancada. A possibilidade de perder o lugar era quase certa. Outro problema, na subida, era atrapalhar os outros que já estavam espremidos. O protesto da torcida, quando alguém subia, era arremessar sacos de mijo ainda quentes colhidos in natura.
A prática de fazer xixi em saco plástico era comum nas arquibancadas. Dessa forma não precisava sair do local e procurar escassos banheiros. Houve um momento, que um saco de cinquenta quilos cheio da água mona, fora arremessado, causando violenta briga. A mesma só contida pela polícia.
Quando todos achavam que não sobreviveriam embaixo daquele sol e fedor de xixi, começa a corrida. Duas horas de barulho infernal dos motores. Impossível conversar com o colega ao lado. Alguns abandonaram o autódromo antes do fim e voltaram para o ônibus. Naquela montoeira de carros não se distinguia ninguém. Onde estavam Senna e Piquet? A uns cem metros de distância, alguém na arquibancada assistindo uma pequena TV a pilha sob uma manta negra. Por que não ficou em casa?
Fim da corrida. Graças a Deus! Mais uma hora até chegar no ônibus em meio à multidão. Retorno direto para Ascurra sem banho e fedendo a xixi. Foi ali, que pelo rádio, quase desmaiados, ficaram sabendo quem tinha ganho a corrida. Fórmula um nunca mais!
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