logo RCN
FATTI & RACCONTI

Um trator em campo

O futebol é uma paixão nacional não só para os homens, mas também para as mulheres. Jogar futebol já é um pouco mais complicado. É necessário intimidade com a bola. Nem mesmo aquele fissurado em academias, dono de invejável porte atlético, desempenha um bom papel em campo se não tiver ginga e malandragem. Perde por qualquer coroa pançudo amigo da pelota.

freepik.com

Mas como fazer para conseguir esta intimidade futebolística? Qual o segredo? Certamente quem está preocupado agora, não tem mais jeito. Já é tarde. Sim porque isto só se consegue quando criança. Nos primeiros dias de escola ou no pasto mais próximo da sua casa.

É ali que se aprende a jogar futebol. Com toda a garotada, descalço, pisando em bosta de vaca, ralando os dedos, sem juiz e fechando o pau de vez em quando.

Mas já nesta etapa da vida, sem que as crianças saibam, formam-se os primeiros mafiosos do futebol. Quem dita as regras é o menino dono da bola ou do pasto. É ele que faz o time. Na escola, é quem chega primeiro no campo com a bola.

Os demais meninos, não convidados pelo mafioso, ficam relegados a assistir as peladinhas. Vão crescendo num segundo plano do mundo do futebol. O mundo dos sem ginga, sem malandragem, sem intimidade com a bola, sem bola e sem pasto.

Foi ali, que na idade adolescente, também conhecida como garnisé ou idade do canivete, que um grupo de amigos resolveu criar um time de futebol dos excluídos. A equipe de salão até que teve alguns momentos de glória. Mas acabou como deveria ter acabado mesmo: sem brilho, sem ginga e na mais pura mediocridade.

O time ainda permanece na lembrança da torcida mais idosa, graças ao famoso e descomplicado zagueiro Ênio. Quem não o conhecia? Brincalhão e bem-humorado. Ênio era amigo de todo mundo e divertia a torcida pela sua maneira de jogar futebol. Ele definia futebol com algo que precisava vencer sempre de uma maneira simples. O negócio era colocar a bola o máximo possível de vezes na trave adversária. Por isso dispensava orientações de qualquer técnico. Ele apenas chutava sempre em direção a trave. Para ele era perda de tempo ficar seguindo técnicas de jogo e passar a bola para os demais jogadores. Caindo no seu pé o negócio era chutar. E chutar com força. Assim o goleiro não pegava.

O time adversário reconhecia isso. Os torpedos lançados por Ênio lá da sua zaga eram impossíveis de serem defendidos por qualquer goleiro. E ninguém jamais tentou. Era fratura exposta indiscutível no membro atingido. Realmente Ênio possuía um chute devastador.

Outra característica do zagueiro das multidões era o fato de jogar sempre descalço. Sim Ênio não perdia tempo com o que ele chamava de frescura e coisa de marica. E olha que o campo era com piso de concreto. Temos certeza que quem já teve a oportunidade de observar os pés deste zagueiro, não estranha sua atitude. Eram de entortar qualquer prego enferrujado de uma polegada sem pegar tétano.

Hoje Ênio não joga mais futebol. Mas continua bem-humorado e amigo de todos. Ao contrário da seleção brasileira, fazia gol sem jogar bola, não recebia salário, não se vendia e alegrava a torcida mesmo perdendo o jogo.

OS HINOS DE ASCURRA Anterior

OS HINOS DE ASCURRA

História da Família Moretto Próximo

História da Família Moretto

Deixe seu comentário

FATTI E RACONTTI - CONTOS E HISTÓRIAS