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FATTI E RACCONTTI

Italianada no Paraguai

A história a seguir é verdadeira e aconteceu no final de 1991 com um cidadão da Vila Nova e outro da Guaricanas. Para não expor os indivíduos ao ridículo, vamos informar apenas as iniciais dos nomes: Juvenal Eliseu Moretto e Clésio Ivo Mondini.

Juvenal era uma pessoa conceituada, filho de família tradicional, trabalhador, inteligente e financeiramente estabelecido. Ainda solteiro, possuía uma casa novinha só para ele, carrinho bem cuidado, enfim, um bom partido.

Certo dia, sentado na poltrona, sozinho, tomando uma Kaiser, percebeu que faltava alguma coisa  em sua estante. Poderia ser melhor decorada. O quarto também não estava bom, faltava um rádio relógio. A televisão não tinha controle e o Guilhermo, cão fiel, merecia uma coleira nova.

Juvenal, então, resolveu fazer o que todo mundo fazia naquela época: comprar essas coisinhas no Paraguai. Sim, porque afinal das contas, lá era tudo mais barato, tudo último modelo, tecnologia de    primeiro mundo.

Juvenal sabia também (ele não é burro) que os paraguaios gostavam de enganar os sacoleiros principiantes. Por isso, fez longas e exaustivas visitas a amigos que normalmente visitavam o  país vizinho.

Após um mês de estudos, Juvenal estava no ponto. Sabia demais, estava tudo certinho. Convidou o amigo Clésio e juntos embarcaram de ônibus no trevo de Ascurra. Dinheirinho no bolso  e lá vamos nós, Paraguai!

Logo na divisa do Brasil com o Paraguai vieram oferecer a tal “camisinha musical”. Juvenal olhou fixamente para o baixinho e respondeu: “Ghe scrit paiasso qua su? Sonte en bugher mi?” E  saiu orgulhoso de sua atitude. Era como estar na Vila Nova protegido pelo Guilhermo.

Comprou tudo aquilo que faltava. Entrava em loja, saia de loja, pechinchava , enfim, desbundou. Parecia um Papai Noel de tanto saco cheio com “arganhi”. Tinha presente até para a Amabile e o Sixto. O Clésio seguia o mestre como seu fiel escudeiro.

Antes de pegar o ônibus para voltar acendeu uma luz: compraria alguma coisa para vender em Ascurra e assim livraria as despesas da viagem. Entrou na primeira loja que apareceu e encheu mais  um saco de calculadoras.

As calculadoras eram daquelas de bolso e Juvenal tomou o cuidado de testá-las antes da compra. Uma por uma ele fez a operação 1 + 1 e em todas elas deu 2. Saiu faceiro e vitorioso. Era um Vilanovense feliz.

Acordou na metade do caminho, no ônibus, depois de um merecido descanso. Abriu o isopor, tirou  uma nortenha paraguaia e bebeu profundamente. Era hora de fazer as contas. Tirou uma caixinha contendo uma das calculadoras e qual foi sua surpresa quando constatou que no seu interior em vez  da calculadora havia um pedaço de madeira. Tirou mais uma e esta também continha um pedaço de  madeira. E todas as caixinhas estavam cheias de madeira.

Juvenal não entendia. Abrira e testara todas elas, havia tomado todos os cuidados possíveis, estivera escovado, é um rapaz inteligente e mesmo assim foi enganado.

Agora “outro tipo de medo” começava a lhe atormentar: E se os fiscais o pegassem como explicaria tanta madeira? Certamente seria taxado como contrabandista de alguma serraria. E o partido Verde e os demais institutos de proteção a flora? Certamente cairiam de pau em cima dele.  Juvenal desceu do ônibus em Ascurra no mesmo local onde embarcou com dois sacos: um de eletrônicos e outro de madeira. Os aparelhos ele pôs para funcionar e a madeira ainda está acendendo o fogão. Menos triste pois economizou muito gás.

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