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FATTI & RACCONTI

Água Morna

O mês de maio de 1996 certamente jamais será esquecido por aquele bancário que atuava em uma agência de Ascurra. Época de pouca tecnologia e serviço dobrado no banco. Na agência organizava carteira de cobrança e ainda por cima, substituindo outro funcionário que atuava na agência de Apiúna. Hoje o serviço de bancários é quase cem por cento on-line. Porém na época tudo era manual. Havia muito mais serviço quando a agência fechava que propriamente durante o horário de expediente.

Naquele pequeno espaço da cidade vizinha, apenas uma pessoa atuava. O funcionário era gerente, atendente, faxineiro, etc. Carga pesada nos primeiros dias. Mas ele estava saindo-se bem e perdeu o malote apenas uma vez. Teve que sair correndo atrás do maloteiro que nunca esperava. O malote seguia para cidades como Blumenau e Joinville onde era feito todo o processamento do dia e lançado nos sistemas. Papéis de caixa, partidas, cheques, contratos, etc. eram transportados para lançamento à noite. No dia seguinte retornava o malote com o processamento feito e mais papéis ainda. Muito diferente do que é hoje que quase tudo se faz no celular.

Não podemos, no entanto, deixar de registrar neste divertido conto, um fato não muito comum para um marmanjo daquela idade. Foi na primeira segunda-feira do mês. O posto de atendimento já havia fechado e o funcionário organizava às pressas uma montanha de papéis. Estava desde o meio-dia agoniado para ir ao banheiro. Na noite anterior devia ter tomado um balde de chope. Não dava tempo! Muito trabalho e a privada ficava em outra parte do prédio distante da sala de atendimento do posto avançado. Para ir ao banheiro tinha que trancar a porta e reabrir na volta. Porém isso só era possível com pouco serviço e sem clientes no posto de atendimento.

Precisava retornar urgentemente para a agência de Ascurra e despachar o malote. Ou fazia xixi ou perdia o maloteiro de novo. Resolveu então depositar a “água morna” em saco plástico. Amarrou bem e no caminho, dentro do carro, jogaria pela janela e tudo resolvido. Foi necessário um saco bem grande para acondicionar o líquido. Esse tipo de saco plástico é feito para acondicionar papéis e pode romper-se com facilidade.

O Escort saiu rasgando a BR 470 a fora. O funcionário desviava as crateras do asfalto com invejosa habilidade. Quase na divisa com Ascurra resolveu dar um sumiço na arma do crime. Pegou o saco cheio de xixi e, com toda a força, arremessou-o pela janela. Tudo ia dar certo se não fosse um pequeno detalhe: O vidro estava fechado! O saco estourou e o fedorento líquido caiu todinho dentro do carro. Aquilo dava dó. Cabelo, rosto, toda a roupa e papéis do banco mijados.

O funcionário, como todo bom italiano, tirou todos os palavrões que tinha direito. Na agência, daquele jeito, precisava despachar o malote com todos os documentos e demais atividades burocráticas. Os demais funcionários não queriam nem chegar perto para ajudar. Além do mais, tinham seu próprio despacho também. O maloteiro esperando e sequer desconfiava que além dos papéis, levaria mijo para o processamento. Certamente deve ter levado a culpa quando o malote foi aberto no destino.

 

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