logo RCN
FATTI e RACCONTI

A Fogueira dos Solteirões

A história começa em junho de 1993 durante a festa de Santo Antônio no bairro Vila Nova em Ascurra. Depois de algumas cervejas, um pequeno grupo de solteirões resolve fazer uma promessa: Construir para o próximo ano a maior fogueira de todos os tempos. Tudo foi anunciado no sistema de som para que não houvesse dúvidas.

Os solteirões esqueceram a promessa tão logo o efeito da bebida passou, mas a diretoria do capitel Santo Antônio não. Logo no início do ano seguinte vieram cobrar a tal promessa e os solteirões não tiveram escolha: “Pode deixar, vamos fazer a maior fogueira da história”.

Depois de exaustivas reuniões, o pequeno grupo resolveu botar “no” de pelo menos outros trinta solteirões e o grupo ficou chamado de “Patroleiros” com presidente e tudo.

Os tradicionais construtores da fogueira da Vila Nova, disseram que também iriam ajudar dentro daquilo que eram acostumados a fazer. O grande problema era como conseguir reunir tanta gente para trabalhar em uma fogueira. Optou-se pelo mais prático: A cada período trabalhado seria feita uma festa.

O primeiro passo foi derrubar as embaúbas para o travejamento da fogueira. Isto os coitados do Juvenal e Amauri fizeram sozinhos. Mas não foi difícil, afinal existem as motosserras.

Agora com quase todos os patroleiros, em um domingo de manhã, o serviço era cortar as embaúbas em partes iguais e carregá-las do precipício até o meio do pasto. Nem os escravos sofreram tanto. Se não bastasse o peso e o assustador precipício, a madeira estava cheia de formigas, que irritadas com o desaforo, avermelharam os pescoços patrolais.

Para quem achava que a tortura havia acabado e que agora era saborear o prometido caldo de peixe do mestre cuca Barbetta, enganou-se: O famoso diretor achou que a pimenta estava barata e resolveu fazer um caldo de pimenta. Foi triste, mas enfim passou este também.

O dia da festa estava próximo e precisávamos rachar as embaúbas pelo meio urgentemente. Para nosso azar o domingo era chuvoso, a madeira ainda estava verde e os machados não cortavam. De bom foi a carninha no meio do pasto em uma churrasqueira improvisada. Barbetta foi proibido de botar a mão.

Nova etapa e talvez a mais importante. Precisávamos encontrar os eucaliptos para a fogueira propriamente dita. Tinham que ser os maiores da região. Achamos “grazie a Dio” na Guaricanas com Carlinhos da empresa Thompsen.

Nova reunião para discutir como trazer os eucaliptos de trinta e oito metros do fundo da Guaricanas até a Vila Nova. Puxamos dois deles com o “zero trinta” do Juvenal e na metade do caminho travou o motor. Nova tentativa com o trator do Juca. Estragou aquele também nada mais nada menos que oito vezes. Com meu Jepp pedindo água, chegamos ao destino.com dois deles. Os outros o Ângelo Chiarelli puxou com o caminhão. Isso tudo levou um dia inteiro e o arrependimento começa a tomar conta das mentes “patrolais”. O sofrimento estava estampado nas faces dos solteirões. Convencer o pessoal a ficar não foi tarefa fácil. A cada momento as coisas iam ficando mais difíceis.

O personagem principal da próxima etapa foi o amigo Renê Zonta. Aceitou o convite para erguer os eucaliptos com seu caminhão guincho. Quando viu o tamanho dos bichos tentou fugir, mas já era tarde. O caminhão estava atolado no meio do pasto. Puxar aceitávamos, mas primeiro erguer os paus. Só quem viu acredita no sufoco que os patroleiros passaram nesta etapa. O poderoso guincho quase partiu-se ao meio diante de tanto peso. Graças a bengala-prumo de Broi Chiarelli os eucaliptos ficaram quase retos. Apenas com uma pequena margem de inclinação de quinze graus, considerada normal pelos técnicos patroleiros.

A próxima etapa era colocar as embaúbas que até então não eram tão difíceis. Uma gigantesca corrente humana por dentro da fogueira resolveu o problema. Foi o sábado inteirinho e a fogueira ficou pronta. A festa era na semana seguinte. Os patroleiros quase não acreditavam. Uma grande cachaçada por conta do Capitel marcou a vitória. Agora é só esperar o outro sábado para enfeitar.

Quando parecia tudo resolvido a maior da decepção:  São Pedro entrou em cena. Para entender o caso é necessário que o amigo leitor saiba que a festa da Vila Nova tem como padroeiro Santo Antônio. Talvez pelas brigas de Santos, São Pedro resolveu mandar um temporal e sacanear com Santo Antônio. Aquele temporal de segunda-feira jamais será esquecido pelos patroleiros. A fogueira depois de meses de trabalho, não passava de um monte de lenha. Só dois eucaliptos ficaram em pé ́. O resto partiu-se ao meio. Tristeza e mais tristeza. “E adesso cosa fare?” Na mesma noite tomou-se a decisão: “fare nantra piu granda ancora”.

Com o caminhão do Bó Poffo substituímos os dois eucaliptos quebrados. Para o Renê era questão de honra e o guincho veio novamente e também atolou de novo. Mas os paus ficaram de pé. Todo o travejamento foi reaproveitado. A fogueira ficou pronta alguns minutos antes de começar a festa. Enfim estava pronta e bem amarrada por potentes cabos. O que deveríamos mencionar neste ato, foi o susto que demos ao pessoal que estava dentro da fogueira: Ao olhar para o céu, tivemos a impressão que tudo iria cair e aos gritos todo mundo desceu. Alarme falso, era apenas o movimento das nuvens!

Agora era aguardar o tradicional lance para a queima. Muitas pessoas o fizeram, mas o maior lance foi de Moacir Zonta, que entra para a história de ter queimado a maior fogueira da região de todos os tempos: 35,70m. Para a queima foi utilizada tecnologia de ponta Vilanovense. Um verdadeiro show de fogos. Nessa história tiramos uma verdadeira lição: Não prometa nada enquanto estiver bêbado, mas se o fizeres, vá até o fim.

Um ascurrense no SBT Anterior

Um ascurrense no SBT

O Poeta Vicente Cechelero Próximo

O Poeta Vicente Cechelero

Deixe seu comentário